Disputando Brasileiro Feminino A-3; Mixto tem grandes mulheres na sua história

Disputando Brasileiro Feminino A-3; Mixto tem grandes mulheres na sua história

Muitos torcedores e pessoas que acompanham a história de sucesso do Mixto Exporte clube desconhecem que as mulheres tiveram uma participação fundamental na criação deste clube, o mais vencedor do futebol mato-grossense. Portanto, neste dia Internacional da Mulher, a homenagem é a elas, que certamente ficariam orgulhosas em saberem que hoje o Tigre tem uma equipe profissional feminina que domina de forma hegemônica a modalidade no Estado. As meninas do Alvinegro são as atuais tricampeãs mato-grossenses de Futebol e irão representar Mato Grosso no Brasileirão Feminino da Série A-3, em 2023, com um planejamento sério para alcançar o topo ao longo dos anos.

Contudo, voltando ao passado, o Mixto cresceu acompanhando as transformações de Cuiabá em uma acanhada cidade do início do século XX, para a moderna metrópole de hoje, e já naquela época se mostrando um clube aberto à participação de todos os gêneros na sua idealização. No dia 20 de maio de 1934, na Rua Sete de Setembro, no centro de Cuiabá, quase em frente a Igreja Senhor dos Passos, mais especificamente na antiga Livraria Pepe (um casarão construído em estilo colonial e tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) era fundado o ‘Mixto Sport Club’ (Assim era a grafia original do nome do clube).

Reunidos neste casarão, Ranulpho Paes de Barros, Maria Malhado, Gastão de Matos, Naly Hugueney de Siqueira, Avelino Hugueney de Siqueira (maninho) e Zulmira Dandrade Canavarros, decidiram fundar um clube esportivo, mas estavam determinados que ele fosse diferente: um clube que reunisse homens e mulheres para o entretenimento cultural e esportivo, algo incomum para a época, na qual os clubes esportivos eram majoritariamente para homens.

A fundação do Mixto ocorreu para organizar um time de volei que pudesse enfrentar a poderosa equipe do Bosque, que mantinha supremacia nesse esporte em Cuiabá. Como na época era muito difícil formar um sexteto de volei dentre os homens na capital mato-grossense, o Mixto reuniu quatro homens e duas mulheres no mesmo sexteto e isso facilitou a discussão sobre que nome dar a esse clube. Daí ter nascido o Mixto, com “x” mesmo, pois essa era a nomenclatura da época. E a partir de então a história é conhecida por todos.

O Mixto Esporte Clube sempre esteve presente na vida dessa senhora, que desde os dezoito anos elegeu o Mixto como o “melhor do Mato Grosso”, como ela mesmo dizia. Filha do zelador do Dutrinha, Ângelo Carlos da Silva, Nhá Barbina o acompanhava ao estádio e foi assim tomando “gosto” pelo futebol.

Fundadora da primeira torcida organizada do Mixto, a torcida “Coração Alvi-negro”, de 15 de agosto de 1975, ela contava que sua paixão pelo futebol e pelo Mixto, nasceu quando, muito religiosa, foi ajudar na venda de ingressos para um jogo entre Mixto e Operário, em que a arrecadação ajudaria o padre Quirino da Catedral Metropolitana.

“Vendi os ingressos e fui assistir ao jogo. Como o centro-avante Carlos Leônidas, era jogador do Mixto eu comecei a torcer para o time. No final da partida, com a vitória me apaixonei.” Desde então começou a coordenar a torcida do time e segundo ela, “arrastava as mulheres, suas amigas, para o estádio”, coisa que na época não era bem vista, mas que “elas nem ligavam”.

O nome de batismo de Nhá Barbina, é Maria Zeferina da Silva. O apelido carinhoso, ela recebeu do sargento Zarur que comandava a torcida do arqui-adversário, o Operário, por conta de uma personagem da novela “As pupilas do senhor Reitor, que passava na época. “Ele me apelidou de Nhá Barbina porque eu gritava demais nos jogos. Eu não parava um minuto e ele achava que eu era parecida com ela”, disse ela em uma oportunidade.

“Antigamente lotava o Dutrinha, depois quando construíram o Verdão, todo mundo ia para lá. Hoje não tem informação de quando vai ter jogo. As rádios e a televisão tem que avisar o torcedor. O bom de boca mesmo era o Roberto França e o Saraiva”, relembrava.

Nhá Barbina conta que em 1976, o Mixto foi disputar a final do Campeonato Brasileiro no Maracanã (RJ), contra o Vasco. Ela organizou uma caravana e foi assistir o jogo. “O Mixto perdeu de 1 a 0, porque o jogador Pastoril perdeu um pênalti. O Maracanã foi o lugar mais distante que já fui ver o Mixto jogar.”

“Eu tenho saudade daquele tempo que infelizmente não volta mais. Antigamente tinha organização. Hoje, se o Carlos Orione não organizar a casa, não tem mais futebol em Mato Grosso”, declarou a torcedora, em uma entrevista ao jornal DIÁRIO DE CUIABÁ, uniformizada.

Ela recordou de um jogo em que, depois de “tomar uma cervejinha” foi sentar, uniformizada, armada e com a bandeira do Mixto, na torcida do Operário. “Apanhei e a polícia viu a minha arma, segundo ela, uma pistolinha, e quase fui presa. A polícia pegou quem me bateu e eu fui sentar com a minha torcida”, recorda a passagem divertida.

Nhá Barbina morreu aos 93 anos, em 2015, e como a primeira mulher a comandar uma torcida em Mato Grosso, é homenageada até hoje pelos torcedores mixtenses.

MIXTO FEMININO HOJE

O Mixto feminino se apresentou oficialmente há dois meses e iniciou os trabalhos com foco nas disputas do Campeonato Brasileiro A3 e Campeonato Mato-grossense 2023. A diretoria mixtense investiu pesado na montagem de um time forte para alcançar o principal objetivo na temporada: o acesso no Brasileiro.

Dorileo Leal, um dos diretores investidores do Mixto, ressaltou as conquistas do clube e o tamanho da responsabilidade das meninas.

“O Mixto está dando uma reviravolta nesta categoria no estado. Temos a hegemonia com o tricampeonato consecutivo. Vocês que estão chegando vão sentir o peso e a responsabilidade de vestir essa camisa e a forma apaixonada como os torcedores acompanham o time. O Mixto é o time do povo”.

A estrutura disponibilizada é visando o acesso no Campeonato Brasileiro A3, que tem previsão de início no dia 15 de abril. A competição é no sistema mata-mata e quem chegar na semifinal sobe.

“Nosso objetivo é chegar na Série A2 do Brasileiro. Isso nos eleva a um patamar diferente e abre portas para que o Mixto se auto sustente para que consiga apoiadores e patrocinadores para seguir na sua trajetória”, disse Dorileo.

Comando técnico – A técnica desse esquadrão será Kethleen Azevedo, que ano passado defendeu o rival Operário. Ela perdeu a decisão pro Mixto no estadual, mas a diretoria viu potencial nela e confia no trabalho. A treinadora destacou a pré-temporada longa e como o elenco será fechado.

“Nos apresentamos com 23 atletas, mas a intenção é trabalhar com 25 ou 26. Nós pretendemos avaliar na seletiva, dar oportunidade para umas três jogadoras e assim fechar o grupo. Teremos uma pré-temporada de 60 dias para fazermos um bom Campeonato Brasileiro”, afirmou Kethleen.

Veja Também